Já sinto o cheiro do Outono...Tenho a sensação de sentir coisas no ar, assim como sinto o cheiro do Natal. Digo isto e todo mundo acha que estou louca, mas como não é possível sentir o cheiro do Natal com as ruas lotadas, o cheiro de carne assada no mercado, o cheiro sensual do Verão em Dezembro, com os canto das maritacas  em agradecimento aos sinos da pequena igreja de São Thomé das Letras. Loucura? Sensação poética ...O Natal tem cheiro, assim como a chuva tem cheiro, o mar tem cheiro, e o Outono tem cheiro...Alguém deve me compreender.Aliás, não queria colocar aqui a palavra, cheiro,preferiria aroma , mas deixo o  verbete cheiro para adentrar na alma .
 O Outono. Sinto as premissas: um ventinho escorregadio pela manhã, o sol mais terno, fazendo um convite para a caminhada, parece que a própria natureza vai entrando num ritmo mais suave,para depois acordar  só na primavera. Não sei se é por gostar tanto dessa estação, o fato é que o outono já está causando a tênue sensação de chegada em mim.
Sou daquelas que amam o Outono. Época de hibernar, e por que não, de em paralelo à mudança da natureza, refletirmos em nossas vidas, despojar para um renascimento interior,assim como as arvores se despojam das folhas, esperando as folhas novas...Mas chega de metafísica, deixo isso para o mestre Alberto Caeiro,um dos (vários) ortônimos de Fernando Pessoa.
No outono  geralmente acontece o equinócio, o fenômeno onde a extensão do dia é igual da noite e os hemisférios Norte e Sul recebem a mesma quantidade de luz. Equinócio – do Latim, aequus (igual) e  nox (noite) significa então  noites iguais. Com o outono o céu começa a escurecer mais cedo, tornando as noites mais longas, próprio para o hiberno do corpo e da alma.
Se para alguns o Outono é cinza, para mim ele tem sempre  o segredo de um poema pronto para ser acabado, escondendo seus mistérios no céu avermelhado  crepuscular ansioso pelo brilho das estrelas .
Outono...Hora de trocar a salada pela sopa fumegante, ir tirando do guarda-roupa o edredom, trocar a alegre cerveja pelo refinado vinho. Chocolate quente, filme, pipoca, amor...  companhias do aconchegante outono.
Como já diria Mário Quintana em seu Hai-kai de outono: Uma borboleta amarela?
Ou uma folha seca
Que se desprendeu e não quis pousar?
Outono, folha seca, pronta para renascer em nossos corações. Pausa das estações no ciclo da vida.

imagem: arquivo pessoal