Aqui em casa tem um LP da “ AHarpa e a Cristandade” do músico paraguaio Luis Bordon. O fato é que o tal LP, datado de 1.977 ( nasci a  dois anos depois) pelo  meu saudoso pai está ,meio arranhado, mal dá para ouví-lo. Tentei ainda copiá-lo, mas em vão. O disco me lembra a infância. A pequena sonata que tanto me encantava. Procurei ainda na internet se havia um CD ou algo similar para comprar, li que as músicas foram passadas para CD sim, embora tenha perdido um pouco a originalidade do som, mas enfim, não achei nenhuma loja que o oferecesse. Aliás, se alguém o souber, por favor me avise...
A Harpa e a Cristandade, o natal...Atiço minha memória afetiva. A mesa farta no espaço onde cozinha e copa se fundem mineiramente em um “ trem “ só. A família unida, o cheiro de carne assada que perfumava a cozinha.Na véspera do Natal o sapatinho esperando o presente do Papai Noel na janela, que amanhecia sempre com um presentinho . A àrvore com o pisca-pisca me transportava(como até hoje) para além dos meus pensamentos, devaneio pueril que ainda me persegue.Depois do ritualístico almoço,já de tarde,  lá ia eu com meu pai e minha bonequinha que havia ganhado à missa das 5 horas, enquanto minha mãe ficava em casa com as visitas.Sempre queria que nevasse aqui no Natal, para usar aqueles gorros, fazer bolas de neve;ainda não entendia que nosso clima não me permitiria tal façanha, e olhava a chuva tênue na esperança de um grãozinho branco para completar minha felicidade.
               Do nada, me recordo do conto da escritora Lygia Fagundes Telles, intitulado “Natal na Barca” onde acontece o verdadeiro natal.O conto onde uma narradora em uma barca,acompanhada de uma mulher e seu filho,acredita que a criança está morta no colo da mãe, mas por fim a criança acorda:
 Acordou o dorminhoco! E olha aí, deve estar agora sem nenhuma febre.

 — Acordou?!  Ela sorriu: 
 — Veja...

 O milagre do natal!
Comecei falando do LP, passei pelo meu natal e lembrei-me do conto. Pensamentos sincrônicos que de certa forma acabam fazendo a coerência.Retomo o fio  condutor.Hoje, meus pais são falecidos, minha família ainda se reúne, embora às vezes falte um ou outro, mas a união  do espírito natalino permanece, mesmo que por um telefonema.A àrvore já não é a mesma da infância, mas outra ocupa seu lugar no mesmo canto, ali na sala, junto ao presépio que espera até  amanhã  a imagem do Menino Jesus.
O Natal continua, a mesa continua, os presentes continuam, a união também, só me faltou a doce melodia de “ A Harpa e a Cristandade”.
 Feliz Natal para todos, com as bênçãos do aniversariante, o Menino Deus.