Estudei com afinco os contos de fadas, e ali se vê o valor da oralidade, do repassar às gerações. Cada história pode ser readaptada, mas o mote nunca perde sua origem. As falações das velhas senhoras no século XVII nos salões franceses da era vitoriana, que ao redor das rocas onde a linha ia fiando e a língua afinando, os contos eram ali contados ao modo senil , porém de forma escarniosa pelas matraqueiras, que distorciam a história.

Usei o pequeno comentário para falar sobre a importância da oralidade, já que me caiu em mãos um texto que não tem nada a ver com finais dos contos felizes na atualidade(no inicio eram tratados com tristes finais, depois escarnecidos pelas senhoras, mas isto também deixo para contar detalhadamente em outro instante).

O fato é que me chegou em mãos um texto escrito de forma escorreita , sobre o famoso Januário Garcia, o Sete Orelhas. A história de um homem vingativo, que já ganhou repercussão nacional. Fato real que teve inicio no caminho de nossa cidade vizinha, São Bento Abade, pelos meados de 1760 .A história, contada e recontada é mais ou menos assim: várias mortes causadas por desentendimentos de duas famílias de fazendeiros, os Garcia e os Silvas.O fato é que a família dos Silva entra em petição judicial contra os Garcia, e não satisfeitos com o resultado, armam uma vingança contra a referida família Garcia, esfolando um filho do patriarca. Cruelmente o amarram em uma figueira e tiraram sua pele por inteiro.

Então, Januário Garcia, irmão da vítima, faz uma trilha incansável atrás dos assassinos, que são sete, e vai pegando uma orelha de cada um. Dizem que levou anos para encontrar todos os sete, mas cumpriu sua vingança, chegando a fazer um colar das orelhas dos réus, que arrancava e colocava dentro de um bornal.. Esta é a versão mais próxima dos fatos, escrita por um magnífico pesquisador e escritor tricordiano Benefredo de Souza.

Alguns relatam que Januário quase perdoou o último a ser executado, tendo este lhe oferecido pouso a um Januário já fatigado pela busca, que por ironia, depara com a casa da vítima, e sem saber que este era a sua procura, agradecido pela recepção e pelo pouso, descobre fatidicamente que o generoso anfitrião era a vítima final.Porém, dá a ele a chance de andar cem passos, se o tiro não acertasse, ele estaria livre, mas Januário acertou em cheio.Quanto à figueira, relatam ainda estar na fazenda Tira Couro( nem preciso dizer o motivo do nome).

Pois é, hoje me caiu em mãos, algumas folhas, recontando esta história; infelizmente, o texto, romanceado, não veio identificado o autor ou autora, que coloca o Sete Orelhas na cidade paulista de Taubaté, com passagem por Sorocaba e estrada real mineira, um texto de escrita perfeita , numa linguagem extremamente culta.

O fato é trágico, mas serve para expressar a importância da oralidade, que depois, escrita pela Literatura, tem o poder de transportar os personagens, sem perder de rumo o foco, fazendo com que Sete Orelhas percorresse o Brasil.