Um dos sons produzidos “artificialmente” que mais me comove é o barulho do trem,realmente, sopita meu coração, assim como o badalar dos sinos nas cidadezinhas do interior.O barulho do trem, tão bem declamado no poema de Manuel Bandeira “ Trem de Ferro”, que, se lido em forma de jogral, faz uma perfeita imitação sonora do barulho do trem, ao ritmo do café com pão, café com pão....Ah! Quem não se alegra ao ouvir os versos escuto o trem a cantar na belíssima composição Toada do grupo Boca Livre?Sem falar do quixotesco Viramundo, o Grande Mentecapto,que, após uma aposta, fez parar o trem que nunca parava em sua cidade, tornando-se um herói, sutileza do bom mineiro. O trem... presente em nossa história, em nossa Literatura.




Depois de um dia estressante, encontro com o velho trem de carga(infelizmente, não  peguei o trem de passageiros aqui em Três Corações( hoje só existem os de carga)cruzando a faixa dos encolarizados motoristas. Eu, ao contrário, paro e tranquila, ouço seu som prosador que remete à infância. “Evém” o trem, máquina produzida pelos homens, hercúleo, constratando com a beleza natural dos ipês amarelos a enfeitar seu caminho.Recordo-me que adorava ir passear perto da antiga Maria Fumaça que existe na estação de Três Corações, infelizmente ali parada, chorando por seus dias gloriosos.




O barulho me lembra chaminé, mato, nascentes límpidas que vi pelos caminhos das passagens entre a cidade de Lavras e a bucólica Minduri; toda entusiasmada, foi a primeira vez que andei de trem, ainda criança.Infelizmente, os trens para passageiros estão se estancando, e pelo jeito, não demora muito, os de carga também nos deixarão a ver navios,deixando somente uma melancólica saudade.


Num texto de Benefredo de Souza, grande pesquisador e escritor tricordiano, comenta sobre o tempo áureo das ferrovias, onde cito em uma parte : “ O que está sendo necessário é arranjar-se um meio de concentrar todos os negócios do Rio Verde. Seria Possível isso? Basta que o imperador queira. Ele, sua corte e sua capital precisavam tanto de nossos bois....Poderia até nos dar estrada de ferro para levar a sua carne , não é? E deu mesmo a MINAS & RIO, aqui chegada e recebida festivamente, com tiros e rojões neste junho de 1884...” Benefredo escreveu isto anos mais tarde, mal sabia ele que os trens já não percorreriam tanto as ferrovias.


O fim de grande parte da ferrovia nacional se destacou ainda mais com a liquidação da Rede Ferroviária Federal Sociedade Anônima RFFSA– triste fato.Efeito da modernização. Bom, mas enquanto temos aqui em Minas a velha Maria Fumaça que liga São João Del Rei a Tiradentes, que espero que nunca cesse, batendo sempre os sinos da esperança.


O barulho do trem, que sobre suas pesadas rodas, pode nos remeter à terra dos sonhos, da inocência, sentimento que as mais belas palavras não conseguem traduzir.