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Minas Gerais sempre foi dotada de certa religiosidade e feição ao sobrenatural. Não são raros os relatos de aparições contados e recontados, o que frisa mesmo uma riqueza tradição oral dos feitos do além. Roberto Drummond relatou bem em seu livro “O Cheiro de Deus” sobre estas aparições inusitadas que são assustadoras, e contadas com convencido orgulho. No livro, numa estranha cidade de Minas, onde tudo pode acontecer, a personagem principal, vó Micaela, é uma brava senhora, que vive em guerra com um coronel; a velha, cega, que vive com um rifle na mão, sente os acontecimentos pelo olfato, sem falar que todos seus descendentes têm sobrenomes de uísque. Neste ínterim, o autor relata de forma humorada e romanceada a história de amor entre um lobisomem e uma mortal, contado com tanta e leveza na colocação das palavras, fina maestria que dá vontade de chegar ao final do livro logo, pra saber quem é o tal do bicho, e pelo enredo que nos envolve, contando de forma sutil os costumes enraizados dos mineiros.
Já circulei de madrugada pelas ruas históricas de Ouro Preto e Mariana, e confesso, entre os casarios e as igrejas fechadas, se sente que a qualquer momento poderá se deparar com um ilustre fantasma do século XVII, é misterioso, e curioso ao mesmo tempo.
Dias destes, vim num programa televisivo, uma entrevista de um cantor regional, ele já com quase 70 anos, e como todo conterrâneo, de fala mansa, afirmou com um estranho brilho nos olhos que já tinha visto um lobisomem quando criança... São histórias incríveis, que não canso de ouvir, povoaram minha infância , e ainda me deleito ao ouvir as narrativas dos mais velhos, que juram de pés juntos os acontecimentos que viveram ou foram relatados por seus pais.
Pois bem, minha historinha recente, aconteceu com três personagens. Quaresma, pra variar. Os antigos ainda dizem que o melhor é ficar em casa, sair depois da meia noite é perigoso, assim como é pecado fazer certas coisas na sexta-feira Santa, que é dia morto, de oração e meditação.
Meia noite, hora das assombrações. Pois estes três aventureiros, não respeitaram tais orientações, passando por cima das crendices. Foram em um baile, um forró com uma incansável sanfona, se divertiram, dançara, beberam, paqueraram, sem se preocupar com a senhora Hora, e a noite da Quaresma esperando lá fora. Pois bem, no fim do forró, quando já não havia mais nada o que se fazer, o baile já terminado, os beijos já dados, a música dançada, os moços resolvem finalmente ir para casa, mas antes ainda pensam em parar em algum outro lugar, mas não havia mais estabelecimento ao redor aberto; insatisfeitos, só restou voltarem pra casa.
No bairro onde moram, cortado pelo Rio Verde, há um lugar que é um campo aberto, eles, farristas, começam a dar gritos, fazer barulhos no silêncio contemplativo da madrugada. Quando de repente, se ouve um relincho próximo ao tal campo, o que tinham de corajosos, esmorece, e saem correndo esquecendo mesmo da bravura que alguns copos de cervejas que haviam lhe dado. O caso se espalhou criando risos e comentários de alguns críticos em contraposição dos crédulos. O que seria o tal relincho?Não sei... Quanto a mim, na melhor das hipóteses, como boa mineira, prefiro esconjurar.