Diz-se que nossa tradicional família mineira tem um pé na senzala, outro na sacristia e tataravô índia caçada a laço.( do livro: As Minas Setecentistas)



Passei um final de semana em meio ao vento delicioso da cidade de São Thomé das Letras. No caminho, roças com o inconfundível cheiro das chaminés, porteiras rangedoras que contam histórias do passado.Paisagem digna da escrita de Fernando pessoa na pele de Álvaro de Campos.A cidade continua ali, com os turistas em busca de descanso encontrado entre as pedras.O pôr - do –sol, cada vez único que faz refletir até os mais apressados. O conjunto me faz pensar sobre a beleza de Minas.

Minas Gerais, talvez um antigo clichê, mas tão renovador em meu coração. Uma região abençoada pelo clima, pela posição geográfica,afinal temos divisa com os mais importantes estados, como Goiás, Bahia, Rio de Janeiro e Espírito Santo. Palco de sangrias de algumas tribos indígenas, incluindo os antropófagos cataguases, nosso sangue tem uma verdadeira mistura étnica de portugueses, africanos e mamelucos, berço de nossa civilização.

Um povo que sob o manto do catolicismo, em contraposição ao medo do sobrenatural, mesmo assim, não abre mão de levar o pequeno filho à benzedeira, para livrá-lo de vento virado. O uai dos mineiros marca registrada, trazida desde os tempos dos maçons da Inconfidência, senha secreta para suas reuniões, hoje o uai se popularizou , desconfie do mineiro que não fale uai...


Minas e Bahia são folclóricas, diz o jornalista e cronista carioca Arnaldo Jabor, revelando uma pontinha de inveja bem-humorada por não ter nascido num destes dois estados tão pluriversais e tão raízes em suas singularidades.Drummond já dizia que tinha pena do mar, por ele não banhar Minas, afinal, qual o encanto desta terrinha tão cantada e recontada por seus filhos?


Nosso afável povo, através da máscara da desconfiança, jamais deixa uma pessoa na mão, somos solidários.Sobre a máscara da desconfiança, somos muito sensíveis. Se um mineiro desviar o olhar do seu, não é por medo, ta procurando tempo de pensar na melhor resposta para lhe dar,sempre cauteloso. Mas não magoe um conterrâneo, sob a ameaça de nunca mais conquistar sua confiança. Certamente te perdoará, mas jamais entrará de novo na porta de seu coração.Nunca saia da casa de um mineiro sem tomar ao menos um cafezinho coado na hora, é ofensa grande.Mesmo nas casas mais simples, sempre terá um pacotinho de biscoito para oferecer.

Os encantos naturais são muitos, abençoados pelas cachoeiras, serras, estradas de terra, rios como o grande São Francisco, que atinge também a região Nordeste. As lendas, os causos, o sobrenatural, que contado pelos mais velhos mexem com a imaginação dos mais incrédulos.Os casarões antigos paralelos com construções modernas, frisam bem a história das Gerais. História dos tropeiros, de escravos, de trens, de Alejaidinho, fazendo de Minas um saudoso e vivo estado de ser.No lema da cidade de São Tomé, e pegando a história do santo Tomé, é ver para crer!