Tempo de Quaresma. Cidade do interior. Há vários  "causos" de assombração. E não duvide não. Eu e minha amiga Carina, e outro colega que era de minha sala na época, somos testemunhas vivas dos fatos sobrenaturais, mas isto fica para outra história.

Ah, os causos, há vários que escutei em relação ao meu bairro e proximidades. Histórias que me delicio e arrepio ao ouvir. Relato os que me são próximos os que povoaram minha infância.

Começo pela “lora” da caixa d`água.A caixa d`água do bairro Triângulo, que antigamente abastecia os trens da época da vaca gorda. E depois, desativada, fez a alegria das lavadeiras, donas de casa com o olhar sereno e prosa alegre que pegavam roupas das madames e dos militares da Escola de Sargentos das Armas para lavar, uma renda extra-marido, enquanto os filhos se divertiam no cano de ferro liso da caixa, servindo como escorregador.

Caixa d`água. Dizem que ali na época da Quaresma há uma loira no local, que assusta os transeuntes, dizem os mais velhos que ela começa a crescer, ficando maior do que a própria caixa d´água. Isso depois da meia noite, óbvio. Os fantasmas antes dormem. Moça da caixa d`água, o que terá acontecido com você?Será que antes de seres fantasma, morastes humanamente entre as pessoas?

  Pegando a caixa d`água e descendo reta a linha do trem, há o bairro Atalaia, onde hoje residem os militares da ESSA. O bairro Triângulo antes era separado do Atalaia por uma porteira. Dizem que as pessoas, antigamente, que sofriam de tuberculose, eram isolados num canto, e morriam por ali mesmo. Sei de relatos fantásticos desse tipo no Atalaia. Falam também os antigos, que o local, outrora frequentado por coronéis, foi palco de histórias tristes de escravos, que foram judiados pelos patrões, sobretudo, crianças que eram castigadas. De vez em quando, sê ouve o lamuriar das crianças. Contaram-me que já apareceu um padre pela redondeza, vestido de preto, que sentou na garupa de bicicleta de um cidadão e depois desapareceu. Coisas do outro mundo...

Próximo à extinta porteira, atravessando a linha há uma entrada para para a matinha, tornando o cenário ainda mais propício às histórias. Uma amiga de nossa família, exímia contadora de casos, disse que já foi perseguida pela luzinha amarela, o que parece ser um compadre e uma comadre que se amavam loucamente, e não ganharam a salvação. Suas caveiras andam por ai, pareadas, batendo uma na outra, provocando faíscas e parecendo uma bola de fogo, e saem assim, perdidas na eternidade, por se amarem.
Sem falar no lobisomem, quem será o amaldiçoado?Cada um tem sua aposta, e as galinhas encontradas mortas na Quaresma são vítimas do sanguinário animal, haja bala de prata.

São tantas histórias que ouvi tantas narrativas além Três Corações, pras bandas de Minas, que dariam um verdadeiro ensaio sobre o tema. Mas fico pensando: tudo mudou. Hoje o que nos assusta é a violência,  Chegar tarde tempos atrás, significava topar com uma assombração. Hoje, corre-se o risco de topar com um ser inescrupuloso, e detalhe, nem precisa ser Quaresma. Ai, que saudade do tempo de outrora!

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