A fisionomia da mulher só começa aos trinta anos.
Honoré de Balzac



Fiz 30 anos em Agosto passado. O romance escrito em 1.831 “A mulher de trinta anos” de Honoré de Balzac designou o termo balzaquiano, se referindo à mulher mais madura. A saga de Julia foi triste , típica de uma mulher da época, insaciada pela falta de emoção devido ao machismo presente.

Minha vida se divide em decênios. O primeiro, a infância que foi maravilhosa. Família grande, caçula temporã, tive os cuidados voltados para mim, dentro do que minha família podia oferecer. Tinha problemas sim, como toda família, mas estes não me atingiam. Depois, um período triste, marcado por perdas imensuráveis, a morte, fatal e impiedosa, atingiu minha família com vontade. Mas a vida continua, é aceitar o inaceitável. Depois vieram os 20 anos, meus sobrinhos nasceram, restituindo totalmente a alegria adormecida na família. Fiz minha faculdade de Letras, retomei minha juventude abruptamente interrompida. Tive o primeiro serviço sério, que me ensinou a ter responsabilidade.

Trinta anos, sou uma pessoa melhor, não digo totalmente madura, tenho resquícios ainda dos vinte e poucos anos, ainda hoje estou aprendendo. Não tive filhos, não é uma coisa que me preocupa hoje, escrevi um livro. Meus amigos me acham um pouco “fechada” a olhos alheios. Sei que visivelmente mantenho uma aparente distância das pessoas de início, antes de criar certa intimidade. Até mesmo me sinto indiferente, estranha a um primeiro contato. Defendo-me com Drummond, o eterno “gauche”, dizendo que sou típica mineira, argumentos fajutos, na realidade é timidez mesmo. Mas a partir do momento que me desarmam, podem se considerar no recôndito do meu coração. Coração, órgão que tenho que cuidar, devido as circunstâncias da idade balzaquiana, tenho tendência a problemas cardíacos, mas sei que amo e sou amada, e isso pra mim é, um aditivo importante.

Ah, meus 30 anos. Se minha vocação literária me incita a ler Honoré de Balzac, nada me impede, porém, de assistir a um desenho com minha pequena sobrinha, gesto simples que me faz um bem danado. Tenho meus preciosos momentos de solidão, até mesmo para me dedicar à escrita. Aviso: não me importunem neste momento de catarse. Risos à parte tenho minhas manias, como as de dobrar minhas roupas todos os dias, além de arrumar meus papéis dentro da gaveta, meus pequenos tesouros. Minhas, meus, uso muito pronomes possessivos. Sou ciumenta, não com objetos, sim com pessoas.

Dizem que não tenho rosto de 30 anos, que bom, será que é verdade? Fico na ilusão que me basta, e quando as rugas me abordarem, espero manter meu espírito jovem; manter o espírito jovem numa mentalidade madura. Busco ser feliz, me alegro desde as pequenas coisas. Corro atrás do que quero, sei quando devo parar.
Um decênio está iniciando para mim, e creio que vai ser muito próspero em todos os aspectos. Os projetos de vida estão saindo da gaveta. Não me sinto atrasada. Conforme Affonso Romano de Sant`anna, essa idade é um ritual de iniciação para a mulher. Concordo.

Uma amiga insiste em dizer que meus textos param no momento em que está ficando bom, deixando um gostinho r de querer mais, bondade dela o “gostinho de querer mais”, mas este conceito dela em relação aos meus textos posso considerar aplicado na minha vida, sempre deixo algo nas entrelinhas.
Ando devagar, como já canta Renato Teixeira, acho que o importante é ter resultados duradouros. Escrevi esta crônica pessoal e quando chegar aos 40 anos pretendo fazer outra de como foi os próximos dez anos, e espero lá, ter cumprido, dignamente mais um ciclo.