Hoje fiz o almoço aqui em casa, quando posso me entrego aos prazeres da cozinha mineira, o prazer de fazer a nossa comida.Cozinhar tem todo um ritual, assim como escrever.Aqui em casa não gostamos do tempero industrializado,salvo quando  se está apressado,  é tudo feito à mão. Começando pelo descascar o alho,o picar a cebola :
...
luminosa redoma
Pétala a pétala
Cresceu a tua formosura
Escamas de cristal te acrescentaram...
Como já escreveu  o poeta chileno em  Ode À Cebola.Pensando bem,  menti, usamos sim algum outro tempero para incrementar, mas não sem antes colocar o  alho, a base do tempero mineiro, bem amassadinho.O refogar do arroz, o cheiro fumegante do tempero, sabor  de contentamento vivo e permanente.Acho que  não existe  prazer maior do que escrever e cozinhar para desligar do mundo e entrar no território mágico do sagrado. Já estou  entrando na metafísica, mas quem escreve é assim mesmo, uma  constante incoerência coerente.
Minha mãe cozinhava exatamente : arroz, feijão-roxinho, molho de batatinhas. Mas cantava. São os versos de Solar,poema de Adélia Prado .Molho de batatinhas...Transe sensorial de refúgio em um lugar recôndito:infância cristalizada.  Mãe,reminiscência da minha. O cheiro do café perfumando a casa quando   o preparava antes de me despertar  para à escola. Antes de me chamar eu já acordava com o saboroso aroma do café, mas não levantava enquanto não vinha ao quarto, dengo pueril. Minha mãe não cantava, mas ouvia todo dia seu sacratíssimo rádio ao preparar o café para tomarmos com o reminiscente pão com manteiga.
Puxa, arrepio... Mas volto à  Adélia Prado.Tem coisa mais terna e singela  do que o molho de batatinhas ?Bom,  gostaria de citar  aqui outros pratos deliciosos da nossa culinária, que nos transportam a um imperturbável sossego, sem desnecessário  uso  de hipérbole,  mas dariam um verdadeiro compêndio. Sei pelo que li, que Adélia Prado gosta dos prazeres da cozinha também, e lógico do bucolismo mineiro, como se pode perceber em Solar e  outros poemas. O poema Roça por exemplo:
 No mesmo prato
o menino, o cachorro e o gato.
Come a infância do mundo.
Cozinha e poema e encanto...Antes de tudo a melhor poesia é ser Minas.

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