AS RIQUEZAS DO INTERIOR

Riquezas do Interior, o livro de estréia da escritora mineira Elenise Evaristo, abre caminhos no cenário literário brasileiro com a telúrica brejeirice de Minas Gerais. É em horinhas de descuido, como diria o também mineiro Guimarães Rosa, que Elenise capta momentos do cotidiano das cidades do interior e, com uma linguagem leve e acessível, convida o leitor a conhecer as riquezas de suas lembranças e de sua terra. Amalgamado ao seu estilo, Elenise utiliza seu repertório de leitora que vai de Drummond a Proust, passando por Machado de Assis e Rachel de Queiroz, para dar forma a sua escrita. Nas 27 crônicas que compõem o livro, a escritora traz à tona a imagem dos contadores de “causos”, a alegria das festas tradicionais, a inata religiosidade do povo de Minas, a singularidade da cultura popular das Gerais e reverencia personalidades marcantes e importantes por sua “mineirice”, como Fernando Sabino e Juscelino Kubitschek. Sob o olhar sensível e aguçado da autora, são resgatados valores humanos que, ao contrário do que se pensa, não ficaram perdidos no tempo, mas adormecidos no íntimo de cada um. Riquezas do Interior é um convite para que esses valores sejam despertados e para que possam ser postos em prática o quanto antes. Um mergulho no interior de cada indivíduo. Uma percepção das riquezas do ser humano. É o que Elenise Evaristo desafia seu leitor a fazer. * Texto escrito por Ana Carla Nunes e Beatriz Badim de Campos


É Janeiro, chove como todos os Janeiros chovem; apesar de gostar de chuva, estou entediada, quero sair, andar, jogar pensamento fora, como diz um cronista que me fugiu o nome agora, observar pessoas, esvaziar a mente para criar histórias. Chove, o Rio Verde sobe aqui em Três Corações, da minha janela na  frente de casa o vejo, vem subindo devagar, dando chance as pessoas de retirarem seus pertences.Sobe cabisbaixo, com vergonha deter de cumprir seu destino.Há maiores catástrofes neste Brasil afora. O Rio Verde... ficava lá embaixo, da janela   dava pra ver somente sua margem, porém sabia que ele estava ali,taciturno em seu leito.Faz dois dias que precisou sair, talvez não por culpa dele, mas dos desmatamentos, da poluição. Já espantou alguns de suas  casas, queira Deus que ele volte logo a correr tranquilamente com suas águas, chega de subir. Mas não posso ficar pensando no rio subindo.

Vou arrumar minhas gavetas, meus papéis, minhas roupas, que é o que faço quando quero desviar meus pensamentos, já escrevi sobre isto antes; vejo que não visto mais algumas roupas, coloco-as em uma sacola, alguém precisará delas mais do que eu, por que as pessoas precisam de tantas roupas? Reflito...Parto agora para as gavetas, meus papéis , meus pequenos tesouros, minhas fotos, vou acumulando papéis. Resolvo tirar, jogar um pouco fora, observo que sou apegada em papéis, mas é porque em recortes vou construindo minha história. O processo de limpeza é fantástico, pelo menos em mim, vou pensando na vida, acho que é assim com todos. Pessoas, pessoas que de certa forma não ficaram em minha vida, não entendo, portanto, não quero entender; outras que passaram, outras que nunca me marcaram...Ah, e as pessoas que permanecem , estas devo zelar, cuidar, manter, cativar...Sei que as vezes sou osso duro de roer, minha amiga disse que as pessoas ou me amam ou me detestam devido a minha teimosia, mas nasci assim, mudar é difícil, mas estou tentando, esta mesma amiga diz que o que me salva é a minha fidelidade as pessoas. Ponto de consolo para mim. Defendo-me com Clarice Lispector:
Sou como você me vê.
Posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania,
Depende de quando e como você me vê passar.
Mas Clarice era Clarice, sem comentários.Não entendo porque resolvi escrever sobre isto, efeito da chuva, marasmo de ficar em casa, agonia por ver o rio subir? Uma forma de desabafo. Não sei...A chuva continua.

Madrugada adentro, a chuva para, entre caminhões do Exército tirando os pertences das pessoas nos cantos da cidade, não consigo dormir. Abro a janela, uma única estrela brilha, um outro dia está a nascer.Rio verde, volte ao seu leito.

O caminho das Pastorinhas

Conforme os historiadores, a tradição das Pastorinhas vem do século XVI, e é uma herança portuguesa introduzida inicialmente pelos colonizadores do Nordeste brasileiro. Podem ser consideradas como expressões teatrais, relacionadas às mensagens bíblicas que falam sobre o nascimento de Jesus. Eram coordenadas pelas igrejas católicas, e ainda hoje se mantém em algumas cidades, principalmente do interior. Com toda sua alegria, podem se destacar nas pastorinhas grupos existentes na época de Jesus, como as ciganas, os camponeses, os estrangeiros. Histórias bíblicas com inserção do popular. Hoje, as Pastorinhas são mantidas por comunidades e bairros, com apoio da Igreja Católica.



Vamos pastorinhas, vamos

Por este caminho além

Visitar menino Deus

Que nasceu lá em Belém.

O grupo das pastorinhas chegam em meu bairro, alegres e cantantes.A coordenadora os  colocam em fila, Vão seguindo de casa em casa,levando  Maria e José, o menino Jesus em seus braços, entoando cânticos populares da própria Pastorinha e cantos católicos.As meninas estão todas com vestidos vermelhos, três meninos vestidos de Gaspar, Baltazar e Belchior( (ou Melchior); os outros componentes seguem atrás, tocando os instrumentos indispensáveis para apresentação, como cavaquinho, bumbo entre outros.

Já falei anteriormente sobre o canto das pastorinhas, belo e mágico, em meu livro Riquezas do Interior, porém, para defini-lo, só escutando; assim como os cânticos da Folia de Reis. A tradição presente no sangue deste Brasil imenso.

Batendo de porta em porta, algumas famílias  pedem que cantem ; outros recebem somente a imagem do menino Deus.Quando na casa se encontra um presépio,todos entram e se ajoelham diante dele,depois ficam ajoelhados  somente os personagens de Jesus e Maria, enquanto as pastoras cantam,   batendo seus pauzinhos(simbolizando os cajados, na maioria são feitos de cabo de vassouras, enfeitados- tudo é singelo, relembrando que o rei dos reis nasceu numa humilde choupana) em compasso, e falando seus versos em adoração. O cortejo anda o dia inteiro, parando para alimentaçãona casa de  famílias que se oferecem previamente , continuando assim sua jornada. Se despedem com o verso do cântico:




Adeuzinho até a volta


Até o ano que vem


Vocês ficam aí com Deus


Ai, ai meu Deus

    Nós vamos com Deus também.

As pastorinhas encerram hoje, dia 6 de Janeiro sua caminhada, assim como os três reis magos.Até a volta Pastorinhas, levando nossa cultura popular e a fé dos grandes corações.


A barca da esperança

Um dos contos que mais me apraz é o “Natal na Barca”, da majestosa escritora Lygia Fagundes Telles. Sei que o Natal já passou, mas é preciso ser Natal em nossos corações todos os dias; não o Natal dos presentes, da ceia, mas o da solidariedade, dos valores cristãos e sobretudo, humanos. O conto fala sobre esperança, num ambiente áspero, e é a esperança que desejo a todos neste ano que se inicia.


Pincelando o conto, relata sobre uma mulher que se encontrava numa barca, na época do Natal, não sabendo como foi parar lá, só que tudo ali era silêncio e treva.Com apenas quatro passageiros, a mulher se encontrava na presença de um velho bêbado, uma outra jovem com uma criança; mas a personagem narradora se sentia bem, naquela mudez mórbida.Até que a jovem mãe puxa conversa com nossa personagem principal, e em meio a perguntas começa o destrinchar da história. A jovenzinha estava ali, com o filho.

- Seu filho?

- É. Está doente, vou ao especialista, o farmacêutico de Lucena achou que devia consultar um médico hoje mesmo. Ainda ontem ele estava bem, mas de repente piorou. Uma febre, só febre....- Levantou a cabeça com energia. O queixo agudo era altivo, mas o olhar tinha a expressão doce. - Só sei que Deus não vai me abandonar.

Sofrera anteriormente a morte de seu filho primogênito, o marido a abandonara e ela estava altiva,e esperançosa, levando o filho febril ao médico. Com sensação incômoda, a narradora tenta focalizar o assunto para o outro filho da moça, doente, mas vivo. Mas a mãe ainda continua a conversa do outro filho que partira:

- tão bonzinho, tão alegre. Tinha verdadeira mania com mágicas. Claro que não saía nada, mas era muito engraçado...Só a última mágica que fez foi perfeita., 'Vou voar`, disse abrindo os braços. E voou.

A mulher, ainda mais incomodada, preferia não ter começado aquela conversa, mas os tais sentimentos humanos...“Levantei-me. Eu queria ficar só naquela noite, sem lembranças, sem piedade. Mas os laços - os tais laços humanos - já ameaçavam me envolver. Conseguira evitá-los até aquele instante. Mas agora não tinha forças para rompê-los.”

A mulher conta depois como foi que o marido a abandonou, contando as sucessivas desgraças com toda calma do mundo:

- A senhora é conformada.

- Tenho fé. Deus nunca me abandonou.

— Deus — repeti vagamente.

— A senhora não acredita em Deus?

— Acredito — murmurei. E ao ouvir o som débil da minha afirmativa, sem saber por quê, perturbei-me. Agora entendia. Aí estava o segredo daquela segurança, daquela calma. Era a tal fé que removia montanhas...

Numa conversa anafórica, fala de novo sobre o filho primogênito que perdera.A narradora , fica sem saber o que dizer, como que refugiando-se naquele gesto, levanta o xale que cobria a criança, volta a cobri-la, porém, o menino estava morto.

A personagem sente covardemente acuada-como contar àquela mãe tão crente o que havia acontecido?- por sorte o local de desembarque estava próximo. Chegado o destino, ela não vê a hora de descer. Até que...

— Acordou o dorminhoco! E olha aí, deve estar agora sem nenhuma febre.

— Acordou?! Ela sorriu:

— Veja...

Paro o conto por aqui, ele tinha tudo para ter um desfecho infeliz, no entanto, a tal fé, a esperança, a crença da jovem em contraposição à vida de aparente tacanhez daquela mulher. A fé, a esperança neste conto fantástico, uma lição de vida.Um conto sobre o Natal, mas que pode servir para todos os dias...Feliz Ano Novo a todos, prevalecendo sempre “os tais sentimentos humanos”.

imagem:google

FALE COM ELENISE EVARISTO

ONDE ENCONTRAR O LIVRO ?




CASO DESEJEM OBTER ESTE LIVRO OU MAIORES INFORMAÇÔES SOBRE ESTA PUBLICAÇÃO, OU CONTACTAR A AUTORA, ENTRE EM CONTATO COM ELA, ATRAVES DOS SEGUINTES CANAIS DE COMUNICAÇÂO.



E-mail / Msn:
e / ou
niseevaristo@yahoo.com.br


Skype: elenisedefatimaevaristo



Me pergunte.com:



Perfil Blog:
Textos Publicados no Recanto das Letras:


Telefone: (035) 8811-0797

LANÇAMENTO DO LIVRO

PRIMEIRO LIVRO DE CRÔNICAS, INTITULADO “RIQUEZAS DO INTERIOR” DA ESCRITORA ELENISE EVARISTO. Este projeto visa divulgar novos nomes e publicações relacionados a Cultura da Cidade de Três Corações, através do lançamento do livro de crônicas “Riquezas do Interior”, da iniciante escritora Elenise Evaristo, contemporânea, mineira, dotada de sensibilidade e cultura e que com estes adjetivos, retrata na sua primeira publicação, embora já tenha sido apresentada ao mundo literário, através da publicação de um artigo, em livro lançado em 2008, intitulado: Quem conta um Conto de Fadas... Uma introdução aos contos de fadas dos Org. Geysa Silva e Luiz Fernando Matos Rocha. INTRODUÇÃO O Estado de Minas famoso por reunir marcas de um passado de riquezas Patrimoniais e Arquitetônicas, trazidas pelo Barroco e Rococó produzidos no século 18, e que garantiu que parte das cidades históricas adquirissem títulos de patrimônio da humanidade por parte dos órgãos responsáveis, possui ainda mais requinte quando se trata do legado da Cultura popular deixada pelos povos mais antigos. A cultura mineira tradicional fértil e diversificada, atravessa tempos e mostra para o Brasil a importância de se abrasileirar ainda mais as nossas tradições !

PREMIAÇÕES

VejaBlog - Seleção dos Melhores Blogs/Sites do Brasil

O que mais chama sua atenção na cultura mineira?

Quem sou eu

Minha foto
Eu,por mim mesma: Virginiana, Terra, Melancólica. Tímida, Dedicada, Ciumenta, Muito Amor: Deus, família, alguém que sabe quem, amigos, Minas Gerais,e Literatura. Impulsiva, Sensível, Aspirante à escritora. Prazer: pôr-do-sol, cheiro de café coado de preferencia no coador de pano, cheiro de terra molhada, cheiro de curral, brincar com meus sobrinhos, comer bolinhos de chuva, ouvir música, assistir filmes, amo momentos simples e extasiantes Amo cozinhar. Adoro Conversar com pessoas e me encontrar nos meus momentos de solidão.

SAIBA MAIS SOBRE A ESCRITORA

Elenise de Fátima Evaristo DÊ UM CLICK NO QUADRADO BRANCO PARA CONHECÊ-LA...

Seguidores

PARCEIROS

ATENDIMENTO ON-LINE

COMO USAR? DÊ UM CLICK EM EDIT NICK NAME PARA COLOCAR SEU NOME, ACIMA DO EDIT NICK NAME ESCREVA-O. DIGITE SUA MENSAGEM E APERTE ENTER NO TECLADO DO SEU COMPUTADOR, PARA ENVIA-LA. .

FAÇA PARTE

Labels

COMENTARIOS

Blog Archive