Uma das primeiras crônicas que tive acesso foi a de Rubem Braga, intitulada Flor de Maio.Aquele poema em forma de crônica, despertou em mim as mais puras emoções. Com uma visão sensível e docemente refinada , como só os cronistas sabem temperar os fatos do cotidiano, o texto relata sobre a notícia de um jornal sobre o nascimento da chamada flor de maio, ou flor de seda, no Jardim Botânico, em meios a tantas outras notícias . O autor fica contaminado pela notícia, e faz a crônica, dizendo ficar feliz se alguém, através da leitura de sua crônica, puder ir visitar a flor de maio , deixando de lado, alguns afazeres.-“ Ir só, no fim da tarde, ver a flor de maio, aproveitar a única notícia boa de um dia inteiro de jornal, fazer a coisa mais bela e emocionante de um dia inteiro da cidade imensa(...)”.

A crônica nunca saiu de minha memória afetiva ...A flor de Maio, que floresce só no outono.Dependurada na pontinha do caule meio pontiagudo e verdinho, é de grande beleza, muito apreciada pelos beija-flores. Tornou-se uma das minhas flores preferidas( talvez pela reverência que a crônica de Rubem Braga me causou) em paralelo com a orquídea.
Peço licença então, para falar da minha flor de maio. Pois há algum tempo comecei a conhecer as espécies das flores, e soube que aqui em casa tinha a flor de maio, e foi amor à primeira vista. Temos três vasos com espécies da referida flor, dois no quintal, na cor branca e um no alpendre , na cor rosa (palavra arcaica e interiorana, mas que já me acostumei, assim como tantas outras). E foi justamente neste vasinho do alpendre que a primeira flor de maio brotou, tímida e onipotente, a esperar por suas irmãs. O vaso fica misturado aos xaxins, de pequenas flores e outras folhagens, e hoje passando vi aquele ponto meio rosado, puxei a planta e lá estava a danadinha, que deve ter aproximadamente uns três dias de vida na minha concepção. Um descuido não tê-la visto antes, devaneios do dia-a-dia.Espero que a crônica do mestre tenha levado bastante gente ao Jardim Botânico,na época em que foi escrita: enamorados, velhinhos, zangados, depressivos, poetas, artistas e outros , assim como conseguiu me surpreender com seu jeito de escrever, conquistando uma verdadeira admiradora da outonal flor de maio, sabendo que posso achá-la em qualquer circunstância do jardim da vida.