Semana do saco cheio, em Outubro de 1.999, fui para Porto Seguro, a Bahia para variar, inteira em festa, o relógio progressivo em comemoração aos 500 anos do Brasil era o ponto turístico mais visitado naquela cidade. Lembro-me da velha máquina fotográfica YASHICA, que não conseguiu capturar o relógio por inteiro, era muito alto, e o ângulo ficou na metade.


Dia 12 de Outubro, a noite anterior fora boa, a passarela do Álcool com seus famosos acarajés e capetas, fazia a festa dos turistas. As barracas com lembrancinhas encantam a todos com suas miniaturas de capoeiristas, cabines telefônicas em formato de coco, o colorido do estado da Bahia, sem falar nas pinguinhas curtidas, que ao tomar, nos faz sentir “porreta”. Tomei uma de abacaxi, suave, mas quente, deliciosa como o clima local. E as camisetas, que os mineiros insistem em trazer pros parentes, sem comentários.
12 de Outubro. Dia também das crianças. Acordo sorrateiramente, é comemoração em homenagem a nossa Senhora Aparecida, Maria Santíssima, que afinal, é uma só. Minha alma religiosamente mineira aguarda os fogos de artifício ao meio-dia, comemoração esta que tem em minha cidade e sei, em outras, daqui a pouco começam os fogos de artifício, penso eu. A imagem da santa, que foi achada no rio Paraíba, atrai romeiros do Brasil inteiro.
Na basílica, existe até hoje os registros dos milagres e muitos ainda são levados, lembro de uma das histórias mais marcantes, a do cavaleiro sem fé, que entrando na cidade de Aparecida, vindo de Curitiba pra Minas, começou a zombar da fé dos romeiros, e entrou com o cavalo na igreja. A pata do cavalo se na prendeu na pedra da escadaria da Basílica Velha. O cavaleiro, assustado, se converteu na hora. Hoje ainda está lá, a marca da ferradura, que ficou gravada na pedra, e que se encontra atualmente no museu da Basílica nova.Transporto-me a Três Corações, os fogos de artifício em saudação a santa já devem ter iniciado ao amanhecer. A igreja do Triângulo, provavelmente está soando os sinos, o tradicional disco de vinil, em saudação a Virgem, que já provavelmente passou a CD, deve estar sendo executado na capela de São José. Os cachorros lá de casa, medrosos, certamente, estão à procura de um local, na inútil esperança de se livrarem do barulho dos fogos. Os bares, por ser feriado, imagino repletos, mas todos se lembram de fazer um minutinho de silêncio em intenção da santa. E os fogos fazendo a festa!


Abro a porta da pousada. Os quartos estão silenciosos, todos ainda dormem o que é normal, afinal, somos turistas, e para agüentar a noitada é preciso bastante repouso. Estamos em um bom local e cheio de vizinhança, nativos do local. São já 11 e 45 da manhã, nenhum movimento. Pensei que o pessoal ali também fosse religioso e festeiro, como em Salvador, uma mistura de católico com religiões afrobrasileiras. Mas não há sequer um tímido movimento. Há um pequeno barzinho por perto, fiquei sabendo que o dono é mineiro, também, nenhuma manifestação. As pessoas parecem não se lembrar naquela redondeza de comemorar o dia de Nossa Senhora Aparecida. Sinto um vazio, religioso e mesmo cultural. Que saudades de Minas!