Em minha casa tinha uma maritaca coquinho (com a cabecinha amarela), mas a ave não falava nada, só emitia gritinhos chatos, mas enfim, tínhamos um amor danada por aquela ave, chamada Lolinho, só não sabia se era macho ou fêmea, deixo isso, porém, para os biólogos. Herdamos este amor por maritacas com meu pai, e sempre deixávamo-las soltas pelo quintal (mineiro ainda fala terreiro),quando cansavam do puleiro. Lembro-me de Lia, uma maritaca grande e falante, que acompanhou minha família por 15 anos, e sempre via seus amiguinhos partirem primeiro para o além. Depois de Lili, que carinhosamente a chamávamos, ainda chegamos a arrumar outra maritaca, já adulta, mas mal permaneceu em nossa casa por dois dias, a doadora veio buscar, o filhinho tava sentindo falta da avezinha. Depois disso, não arrumamos mais maritaca.
Mas vamos ao Lolinho. Um dia de Setembro de 1.997, fui fazer compras com minha mãe. Voltamos para casa. Lolinho havia sumido, abruptamente, fugiu de casa. Ah, chorei por causa do danadinho, pensando onde estaria, que sofreria, que podia morrer de frio, estas coisas tolas, sem pensar que os animais sabem se virar melhor que os “humanos”. Mas foi um momento triste para mim. Pois bem, minha mãe neste dia estava incógnita desde a manhã, como nunca vi. E logo que viu minha tristeza, começou a falar ponderadamente sobre liberdade, que Lolinho estava bem, que aves gostam de liberdade, ela sempre calada, estava diferente, naquele discurso. Lembro-me direitinho de algumas de suas palavras, que não saem de minha memória afetiva: “Ele agora está feliz, não está mais preso, era melhor do que ficar aqui... Se pessoas gostam de liberdade, imagine os animais”.
Subitamente, me conformei. Minha mãe assim, tão inquestionável e firme em seu discurso, aceitei o sumiço da ave. Dois dias se passaram, minha mãe faleceu, de ataque cardíaco.Dizem que as pessoas antes de morrer, ficam diferentes. A conversa sobre Lolinho, sobre liberdade. Senti uma dor indizível. Será que estava pressentindo sua morte súbita? Não sei. Alçou voo como Lolinho