O angu no início do Brasil colônia era preparado com miúdos de carne. Podia ser feito com farinha de milho (fubá) ou farinha de mandioca, com esta última farinha recebeu o nome depois de pirão. Mas quero falar aqui do meu angu, o angu preparado pela minha avó, pela minha mãe, e por outros tantos no recanto sul das Gerais. O angu preparado somente com o fubá e a água, e, se quiser algumas gotinhas de óleo. Mas afinal, que gosto tem meu angu?Este alimento insosso, com seu jeito simples de preparar?


Será o modo de fazer que esta iguaria que o torna tão gostoso?Será o ponto de mexer o angu, que o faz um prato tão tacanho e tão importante ao mesmo tempo para acompanhar aquele torresmo bem sequinho? Só que seu modo simples exige toda uma preparação, a quentura da água, o mexer com a colher de pau, as especiais gotinhas de óleo. E detalhe, fica ainda mais gostoso se feito em panela de barro ou de ferro. Alguns preferem o angu mais consistente, que é o meu caso; outros, mais molinho, para acompanhar aquele feijão bem temperadinho. Se derreter ao gostinho de tomar um leite gelado na panela onde foi feito o angu, com resquícios daquela casquinha crocante, ah, velha infância.
Angu com costelinha e couve rasgada, pratos de Mariana, Ouro Preto; turistas adoram provar, além de repetir a dose, aproveitando ainda para conhecer as riquezas culturais das Gerais. A tessitura da abóbora com a perfumada carne seca, acompanhada da massa amarela, sem esquecer é claro, daquela saborosa pimentinha. Sem falar dos pasteizinhos de angu, na tradicional festa do Congado, na cidade de São Gonçalo do Sapucaí, servido nas noites outonais de Maio. Ouvindo os batuques dos tambores, e comendo famosos pasteizinhos, é “bão” demais.
O fubá, para se fazer o angu, vindo diretamente da roça, do moinho, é mais grossinho, mais puro, menos refinado, diferente do fubá do mercado, mas, ambos originam a suavidade do alimento. Na tradição italiana surge a polenta, muito utilizada pelos paulistas, que acrescentaram outros ingredientes, como margarina, molhos, queijo, mas sinto muito, ainda prefiro meu pobre anguzinho.
Mas pergunto novamente: que gosto tem o angu? Uma singela papa, mas feito com muito amor... Acho que posso traduzir assim seu paladar: gostinho de aconchego, de cheirinho da fumaça do fogão de lenha, de moda de viola enraizada, da leitura de Guimarães Rosa... Àqueles que não comeram nosso angu, não sabem o que estão perdendo.