Perambulando por sua propriedade ou visitando amigos da aldeia, o imaginoso fidalgo ia recompondo as aventuras que lia, incluindo-se no enredo principal herói e conduzindo a história a seu bel-prazer.
Trecho de Dom Quixote de La mancha- Miguel de Cervantes



Observo que nesta vida, cada um tem seu moinho de vento, ou seja, seus próprios fantasmas. Dom Quixote, o cavaleiro andante, o ilustre e louco personagem de Miguel de Cervantes, pensava lutar contra dezenas de gigantes, o que na verdade eram moinhos de vento. Sancho Pança, o coerente, sempre o reprimindo, uma forma crítica e simbólica de como os diferentes são tratados.Para alguns, sonhar é proibido.
Acho que cada um tem seu próprio moinho de vento, pequenas pinceladas de escape, que permitem ao homem sair um pouco do monótono e às vezes, sórdido cotidiano.
Dom Quixote conseguiu, mesmo nos momentos finais, após ter criado outros exércitos imaginários, finalmente voltar à realidade. Outros ficam presos, lutando para sempre contra seus moinhos de vento. Fatídico. As pessoas, todas, têm suas pequenas lutas interiores, mentira quem diz que não tem. Os artistas em especial, têm seus momentos de lutar contra os moinhos de vento, pobre daqueles que se entregaram à eles, indo numa viagem sem volta. São muitos os instantes, onde, os poetas das artes ultrapassam o limite de sua criação, e partem para a alienação, entrando em caminhos sem voltas , ficam depressivos, se entregam às drogas, à uma vida desregrada, e acabam, se entregando a maior das batalhas , a depressão, que muitas vezes pode não ter um final feliz.
Confesso que tenho meus momentos de lutar contra meus moinhos de vento, momentos estes, infímos, de catarse, onde preciso da solidão. É um momento meu. Passeando pelas minhas montanhas interiores, como já diria o poeta Drummond. Estes momentos de reflexão são saudáveis, os acho importantes. Outros passam por momentos de reflexão como uma verdadeira tortura. È saber que a vida é bela, que os momentos são transitórios e que se tem um destino a cumprir dentro de um livre arbítrio que nos foi dado.
Cada um sabe de seus próprios moinhos de ventos, só não esqueçamos de voltar à realidade que, com todos seus problemas, tem seu lado bom, e que vale a pena encarar as batalhas reais, não permanecendo por longo tempo nas imaginárias como as de Dom Quixote. A vida é bela com todos os moinhos de vento. Finalizo com trechos da letra de Frejat e Dulce Quental:

Baby, compra o jornal
E vem ver o sol
Ele continua a brilhar
Apesar de tanta barbaridade...
***
O Poeta está vivo
Com seus moinhos de vento
A impulsionar
A grande roda da história
***


Linda música. Façamos nossa história, mesmo com eventuais moinhos de vento em nossos campos.