Estava aqui, arrumando minha gaveta da cômoda,cheia de papeizinhos, onde meus pensamentos viajam, idéias surgem, reflito. Arrumar meus trenzinhos é um dos infinitos rituais, um ato onde me encontro.
É quase natal, jogo alguns papéis fora, os que escolho, são partes de minha vida, de certa forma. Meu CAT em Filosofia, que nunca usei, perdeu a validade, vou ter de renovar por mais um ano, espero que desta vez faça uso. Confesso que gosto de Filosofia, acho algo paradoxal, pensar é preciso, porém, também agir. Sócrates podia ter evitado sua morte, não precisaria beber cicuta, mas negaria seus princípios, uma faca de dois gumes. Sim, vou jogar meu CAT no lixo, já não me serve mais. Ah, mas foi o primeiro que tirei, vou guardar sim, porque sou tão indecisa?Retiro-o do chão onde estão os papéis que vão para o lixo.




Cartas dos meus amigos, do meu amor, que releio sempre mantendo acesa a paixão. Nem pensar, ficarão guardadinhas ali. Desenhos de minha sobrinha Sofia, são quase todos iguais, mas cada um dado com todo carinho, fora de cogitação; os junto todos. Ficarão ali, guardadinhos.

Lá está a letra de meu falecido pai, num poema que copiou para mim, As Velhas Àrvores , de Olavo Bilac, folha amarelada que guarda a sete chaves.Meu pai, se estivesse aqui ainda presente, estaria recomendando os comes para nossa ceia de Natal, sinto uma dolorosa e doce saudade.
No meio dos papéis estão algumas fotos minha, ainda pequenina, sempre com meu inseparável biquinho na boca, que meus pais pelejaram para tirar de mim, até que esconderam, e, mesmo aos prantos, deixei meu último biquinho rosa aos ventos.Pequenas histórias que fazem parte de minha memória afetiva.

Conforme vou separando os papéis, vou refletindo, fazendo uma faxina também mental. Semana que vem já é Natal. Repenso em minha vida, coisas, que já não servem mais devem ser jogadas no lixo, por mais dolorosas que seja o ato de desapego. Sentimentos como falsidade, interesse (que abomino) devem ser deletados, não cabem e nunca caberão em minha existência, requisitos necessários para uma pessoa continuar em minha vida, independente da posição que ocupa.

Planos para o futuro... metas são traçadas, finalmente deixar minha cidade, que sei, é um bom lugar, mas não pela minha ambição de crescer. Amar perdidamente, não como Florbela Espanca “...Mais Este e Aquele, o Outro e toda a gente...” Sou ridiculamente monogâmica, mas não me arrependo. Ter sim, um amor romântico e amor universal por todas pessoas. Espero estudar, aprender sempre mais, ser mais tolerante, papéis em minha vida que devo sim, guardar na gaveta do meu coração.
Que as pessoas tenham no natal em seu coração o Amor, o verdadeiro Dom Supremo, segundo o escritor Henry Drummond. E que os projetos para o próximo ano não fiquem só no rascunho, e sim, alcancem ao menos um lumiar primaveril.