Eu o vi a primeira vez num anúncio de incentivo as pessoas para praticarem o bem e não desistirem de seus sonhos, não me lembro bem qual era, provavelmente estas mensagens de final de ano. Despertou minha curiosidade, eu era conselheira tutelar na época e ver a realidade das crianças não era e convenhamos, ainda não é fácil. Ele havia adotado 13 crianças. O anúncio parou de passar, mas a imagem daquele homem não.
Dois anos depois. Saiu um filme sobre Roberto Carlos Ramos. Sim, era ele. Um grande herói que conseguiu sobreviver em meio a tantos chamativos que o mundo oferecia nas ruas. Podia ter se tornado mais um menor infrator. Fora internado numa grande Instituição para recuperação de menores. Diziam que dali, as crianças saiam para ser doutores, mera ilusão!Foi deixado no local pela família aos seis anos de idade. Só que ser internado numa grande Instituição não resolve nada, se não for aplicado à afetividade, palavra chave deste homem, que se tornou um grande contador de histórias. Tudo porque soube aproveitar a chance de mudar sua vida, quando conheceu uma pedagoga francesa chamada Margherit Duvas,onde ouvira dela as palavras que soaram em estranhas em seus ouvidos “com licença” e, “por favor”. Que palavras seriam aquelas? O menino adolescente descobriu no decorrer de sua vida. A distinta senhora fez a diferença na vida daquele futuro personagem. Levou Roberto para morar com ela na França.
Um dia o adolescente de 13 anos inunda a casa daquela que lhe dera uma chance. Já predestinava, certamente, que a mulher o poderia aos préstimos da rua, porém, ao contrário, conversa com ele olhos nos olhos, perguntando o porquê fizera aquilo. O garoto, pudico, se rende a doçura daquela mulher maternal. Se emociona, estava acostumado a ser castigado.O ódio pago pelo amor, a ternura mais uma vez vence.
Margherit ficou cinco anos com o adolescente, matriculando-o em um bom colégio, onde aprende fluentemente o francês. Usa sua arma mais ágil para conquistar as pessoas, artifício já usado por Sherazade, evitando a doce heroína de ser morta pelo sultão: o dom da palavra, a oralidade presente desde a Antiguidade. Artimanha que o garoto usava desde os tempos da velha Instituição para conseguir um pedaço de pão a mais e sair de situações vexatórias. Usa a imaginação em suas palavras, é denominado “O Embaixador das Maravilhas” por seus colegas franceses, que viviam o cercando em busca de uma nova aventura.
Volta à antiga Instituição como pedagogo, as coisas não mudaram no local. O negócio é ele fazer a diferença, assim como Margherit a fez em seu tempo. Conquista a confiança dos internos, consegue adotar um, hoje são treze filhos, fora os que abrigou por um determinado tempo.
O contador de histórias, o vi esta semana dando entrevista na T.V. Seu jeito carismático, espontâneo, um sorriso que amolece qualquer coração endurecido. Seu modo de contar, sem abuso de vernáculo...Ele é assim, simples... Podia ser apenas mais um anônimo. Consegue hoje ter uma vida confortável, através do estudo proporcionado, correu atrás do que queria. Um dos melhores contadores de histórias do mundo. Contou com um anjo em seu caminho e arregaçou as mangas...Reflito: Temos como rigor as medida aplicadas ao menores, O Estatuto Da Criança e Adolescente para amparar, porém , o resultado nem sempre é eficaz. O motivo desta realidade? Ainda não colocaram a palavra AFETO, como diz o nobre Roberto. Afeto, a base da relação. A palavra afeto do latim affectur (afetar, tocar) que é capaz de fazer grandes transformações.
Encerro esta crônica, com o conselho do Contador de Histórias, que diz que podemos contar nossa história de dois modos, uma é de um jeito cabisbaixo, lamentável, para que as pessoas sintam piedade, a outra é sabendo ultrapassar as barreiras, sabendo achar graça das dificuldades e enfrentando a vida de peito aberto. São duas opções, saibamos escolher a nossa!