Hoje me aconteceu um fato corriqueiro, mas interessante ao mesmo tempo. Entregaram-me um papelzinho na rua, com os seguintes dizeres:
D. Maria
Búzios e Tarô
Quer teu amor, amando como você o ama? (em letras garrafais).
Embaixo os telefones de contato. Do lado, desenhos de imagens, que creio ser do Candomblé, dois guerreiros que não conheço São Jorge e a inconfundível Iemanjá, com seus braços estendidos sobre o mar.
Não é raro deparar em todo canto com as artes adivinhatórias. Recordo de um fato que aconteceu comigo: um dia fui abordada por uma cigana. Eu estava com meus óculos escuros, objeto inseparável. A vidente disse que se eu desse os óculos para ela, revelaria o nome de uma pessoa muito falsa em minha vida. Delicadamente, me esquivei da insistente cigana. Não sem antes observar os reluzentes dentes de ouro em sua boca, o que é comum entre eles. Os ciganos, cheios de artimanhas para convencer o público a se renderem à arte da quiromancia. Dizem que o povo cigano é o guardião da liberdade. Não sei, só sei que não dei meus óculos.
As artes adivinhatórias. Na época da extinta Babilônia, os magos se orientavam pela Astrologia, ciência hoje ainda seguida pelos hindus, que não fazem suas tarefas sem saber o que os astros reservam, haja tempo para a consulta. Tirésias sabia desde sempre sobre o crime que Édipo cometeria contra o próprio pai, triste fado. Sem falar na mítica Sibila de Cumas, que em seu paraíso oferecia aos ousados visitantes uma recepção com banquetes, música, boa comida e prazeres inenarráveis. Só que a sensual mulher, aos sábados, se transformava num monstro, espantando a todos seus pretendentes. Muitos foram seus feitos adivinhatórios na história lendária, mostrando os caminhos para vários heróis.
Quem leu o conto "A cartomante” de Machado de Assis, um intrigante triângulo amoroso, observou que, até um homem, dito erudito, se sentiu aliviado por uma consulta feita nas cartas: — A senhora restituiu-me a paz ao espírito, disse ele estendendo a mão por cima da mesa e apertando a da cartomante. -Fato este que acabou num final trágico.
A curiosidade do homem, a ânsia de antever o dia de amanhã o faz procurar a esses recursos, e convenhamos, essa insaciável curiosidade atinge a qualquer classe. Eu pessoalmente não acredito em adivinhações, mas confesso, fiquei instigada na hora em que a cigana me abordou e ofereceu o nome da tal pessoa em troca dos óculos; sabia que não era verdade, mas que me fiquei com um resquício de curiosidade, isso sim. Cito aqui não o ato sobrenatural e sortilégio desses “mágicos’, e sim, o jogo de persuasão para convencer seus clientes, o que realmente é relevante. E sua presença dentro da Literatura gera um vasto campo de estudo, valendo a pena conferir.